Abdominoplastia
O abdómem em avental , frequente após a cirurgia bariatrica ou quando ocorre grande perda de peso, é uma das indicações para a abdominoplastia .
A abdominoplastia consiste na remoção da pele e gordura em excesso abaixo do umbigo, plicatura da aponevrose dos músculos rectos abdominais, com reforço da parede abdominal, descolamento da pele acima do umbigo e seu estiramento, permitindo esticar o abdómen desde a região abaixo do peito até ao púbis. O umbigo é também reconstruido, de modo a ficar aderente e mais pequeno, corrigindo-se ao mesmo tempo uma possível hérnia umbilical, no caso de existir. O púbis fica também mais esticado, como se tivesse sofrido um lifting, assim como a pele da região superior da raiz da coxa. A abdominoplastia deixa uma cicatriz horizontal, que se prolonga lateralmente em maior ou menor extensão, de acordo com a quantidade de pele que tem de ser removida. Deixa também uma cicatriz á volta do umbigo, que retrai para dentro do umbigo, tornando-se pouco perceptível .A cicatriz horizontal é colocada de modo a poder ser escondida no calção de banho . As cicatrizes têm um período em que são muito evidentes, geralmente os primeiros seis meses, tornando-se progressivamente claras ao fim de um a dois anos. Claro que existem pacientes que podem formar cicatriz hipertrófica e mesmo quelóide, tudo depende da genética de cicatrização. Mas entre ter um abdómen liso com cicatriz mais visível que pode esconder na linha da cueca ou não ter cicatriz e ter um abdómen flácido, descaído, volumoso e com estrias,não há duvida possível, em optar pela primeira hipótese .
A abdominoplastia é muitas vezes associada a lipoaspiração dos flancos e dorso, de modo a conseguir-se um tronco mais harmonioso. Os melhores resultados conseguem-se em doentes magros, que só apresentam excesso de pele. Nos obesos, para conseguir um resultado mais harmonioso, temos muitas vezes de associar lipoaspiração de outras áreas do tronco. Embora em doentes obesos ocorra uma redução de peso de dois a seis quilos, esta cirurgia não deve ser feita com o objectivo de reduzir peso, mas sim de remodelar o tronco. Em doentes muito obesos, persistira sempre um certo volume abdominal, pois grande parte desta gordura em excesso encontra-se intra-abdominal, envolvendo o intestino e só com dieta poderá ser eliminada.
Existem variantes á abdominoplastia, tais como a lipoabdominoplastia , a mini abdominoplastia, a abdominoplastia invertida e a abdominoplastia com cicatriz vertical A lipoabdominoplastia envolve a associação uma lipoaspiração do retalho cutâneo quando ele é muito espesso. A mini abdominoplastia tem indicação quando o excesso de pele e gordura é predominante abaixo do umbigo ou quando este excesso também envolve a parte superior, mas existem contra-indicações para a abdominoplastia completa ou a paciente não o quer, pois o tempo de recuperação é inferior. Pode ser associada a lipoaspiração da cintura e da região supra umbilical. Nesta cirurgia só a pele abaixo do umbigo é esticada, não sendo feita a transposição umbilical. A mini abdominoplastia pode ser realizada em ambulatório, recomenda-se um período de repouso de uma semana e tem um período de recuperação de cerca de três semanas.
A abdominoplastia invertida, é uma técnica raramente utilizada ,quando o excesso de pele é somente na parte superior acima do umbigo. A abdominoplastia com cicatriz vertical só deve ser usada quando o excesso de pele é muito acentuado em casos de grande perda de peso e não existe outra alternativa , pois a cicatriz vertical será sempre visível .
A abdominoplastia é uma cirurgia realizada com anestesia epidural ou anestesia geral. Demora cerca de duas três horas dependendo da extensão do abdómen. Recomenda-se sempre internamento de 24 a 48h . Os drenos, são retirados na altura da alta hospitalar. As suturas são intradérmicas, pelo que não é necessário retirar pontos e deixa habitualmente uma excelente cicatriz fina. O paciente tem alta com pensos impermeáveis, de modo a poder tomar duche e com uma faixa compressiva obrigatória. Esta faixa deverá ser mantida, só sendo retirada aquando do banho, sendo substituída por uma cinta ao fim de um mês e que deverá ser usada durante mais outro mês. Durante quinze dias, terá de repousar, sendo proibido conduzir, não é obrigatório estar sempre deitado, mas deverá poder repousar o mais possível com as pernas levantadas já que estas têm tendência a inchar nas primeiras semanas. O repouso é necessário, porque se começa a movimentar-se precocemente, atrasa o processo de aderência da pele e tecido subcutâneo ao plano muscular, com aumento da probabilidade de formação de seroma. A plicatura da aponevrose muscular também pode rebentar, se ocorrer algum esforço indevido precocemente. Durante as primeiras semanas irá sentir uma sensação de estiramento da parede abdominal e enfartamento precoce durante as refeições, isto é, vai-se sentir com estomago cheio, mesmo comendo pouco. Isto deve-se ao aperto da aponevrose muscular, que vai como que reajustar o espaço entre os órgãos intra-abdominais. Esta cirurgia, em pacientes com abdómens muito distendidos e obstipação, contribui para a melhoria da obstipação. Após os primeiros quinze dias poderá retomar, pouco a pouco, a sua vida social e laboral habitual, sempre com uma cinta os primeiros dois meses. Exercício físico, nomeadamente abdominais, só poderá retomar ao fim de dois meses de pós-operatório, para que o músculo esteja cicatrizado e não ocorra rebentamento de pontos internos. Porém vai levar entre seis meses a um ano, até que se esqueça que foi operada. A região inferior, logo por cima da cicatriz, apresentara edema durante os primeiros meses, o qual vai pouco a pouco diminuindo, á medida que a circulação linfática se refaz. Durante o primeiro ano é de prever alteração da sensibilidade da pele a volta do umbigo, que devagar retorna, embora com algum défice. As cicatrizes vão clareando e após o período de estabilização, geralmente seis meses, é feita uma reavaliação, pois pode ser necessário retoques na cicatriz ou a nível da espessura do retalho, quer a nível supra umbilical, quer infra umbilical. Estes retoques podem implicar excisão cirúrgica da cicatriz e lipoaspiração do retalho, de modo a optimizar o resultado da abdominoplastia. Tais procedimentos são habitualmente realizados sob anestesia local, não interferindo com a sua vida normal. Os entusiastas das tatuagens, poderão então realizar uma tatuagem ao longo da cicatriz, tornando-a praticamente imperceptível.
Após cerca de dois meses poderá apanhar sol, mas sempre de forma indirecta e com protecção solar durante o primeiro ano.
É das cirurgias estéticas que pode acarretar mais complicações, embora actualmente raras, se forem tomados todos os cuidados, sendo de primária importância o repouso, a compressão elástica do abdomem e dos membros inferiores, reduzir ou parar o consumo de tabaco, visto que o tabaco tem um efeito negativo na cicatrização da gordura e pele. Pode como em qualquer cirurgia ocorrer infecções e hematomas. As tromboembolias, fenómenos descritos nesta cirurgia como em outras cirurgias ginecológicas, ortopédicas e abdominais são extremamente raras , mais frequentes nos obesos, podem no entanto ocorrer em qualquer pessoa , não se podendo prever quando. Os pacientes são sujeitos a um protocolo intra e perioperatorio de modo a manter a probabilidade de tromboembolia mínima, tal implica terapêutica com uma substancia para o sangue ficar mais fluido durante a primeira semana, o uso de meias de compressão elástica durante quinze dias e a mobilização precoce dos membros inferiores. Doentes muito obesos são aconselhadas a perder peso primeiro, para baixar o risco. Também não é conveniente associar outras cirurgias demoradas com a abdominoplastia, para não aumentar muito o tempo de cirurgia. Deve evitar também realizar viagens prolongadas de avião, durante a primeira semana antes da cirurgia e após quinze dias, pois a imobilização aumenta o risco, portanto cuidado quando resolver ser operada e realizar uma viagem de avião longa, logo de seguida.
Outra complicação, são as necroses de pele, geralmente na região logo acima do pubis. Esta parte da pele e gordura é muito sensível ao estiramento que vai ocorrer com a cirurgia, agravado muitas vezes pelo consumo de tabaco. Pode então ocorrer pequenas perdas de pele e gordura «necrose», que levarão por vezes varias semanas até cicatrizar. Quando tal acontece, a cicatriz terá de ser corrigida posteriormente, quando a pele o permitir, o que poderá levar um ano.
Outra situação mais frequente é o seroma. O seroma é uma acumulação de líquido entre a parede de pele e gordura e o músculo abdominal. Não é grave, mas atrasa a recuperação. Não respeitar o repouso, assim como não usar cinta aumenta a probabilidade de isto acontecer.